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25 de julho de 2016

Fahrenheit 451 (Ray Bradbury, 1953)

A primeira metade do século XX viu o surgimento de importantes obras distópicas, como os aqui já comentados Admirável Mundo Novo (Aldous Huxley, 1932) A Revolução dos Bichos e 1984 (George Orwell, 1945 e 1949, respectivamente). O motivo é simples de entender: esse foi um período histórico turbulento, que viu as duas Guerras Mundiais e o surgimento de regimes totalitários de governo (fascismo, nazismo e comunismo). A segunda metade do século passado, todavia, também possui seus grandes expoentes distópicos: Laranja Mecânica (Anthony Burgess, 1962), A Revolta de Atlas (Ayn Rand, 1957), e o aqui comentado Fahrenheit 451 (Ray Bradbury, 1953).

Em um futuro distópico em que os livros são proibidos e a opinião crítica é duramente reprimida, conhecemos Guy Montag, um bombeiro (“queimador de livros”) que, aos poucos, começa a questionar o seu trabalho, a sociedade em que vive e a grande repulsa pelo conhecimento literário. Quando Montag é confrontado com a realidade do sistema, a revolta se instala, e ele já não pode mais ser o mesmo de antes.


Diferentemente da narrativa mais pesada de distopias como 1984, aqui temos uma narrativa mais leve, mostrando um controle social mais sutil, mas não menos eficaz – uma forma de nos alertar sobre como o controle sobre a liberdade e sobre a mente das pessoas pode acontecer sem nos darmos conta disso. O grande alvo do sistema? Os livros, a representação precisa do conhecimento e do pensamento independente. Queimando os livros, o sistema queima junto toda opinião contrária, toda reflexão revolucionária, tudo aquilo que é pensado “fora da caixa”. (A propósito, o ato de queimar livros é o que dá nome à obra: o papel queima à temperatura de 451 graus Fahrenheit.)

Os personagens são marcantes: Guy Montag, símbolo da transformação do pacato funcionário do governo, que se depara com a falta de sentido de sua vida e decide lutar contra o sistema; sua esposa Mildred, representação daqueles que são capazes de sacrificar tudo pela manutenção do status quo; Faber, o link com o antigo mundo de liberdade intelectual; Granger, o líder da resistência; e claro, o grande sabujo mecânico, um dos melhores monstros de ficção científica que já tive o prazer de encontrar nos livros (além de outros personagens que ficam de fora desta humilde crítica).

Aqui, Ray Bradbury desenvolve um importante estudo sobre como o “engessamento mental” das massas trabalha para a manutenção do sistema vigente: quanto menos pensamos, mais dóceis nos tornamos. A exemplo do que já falei em outras críticas sobre distopias, o que torna um livro um clássico é sua relevância e sua atemporalidade, e encontramos tudo isso nesta bela obra. Afinal, a mensagem do livro é ou não assustadoramente atual?

Fahrenheit 451 é uma excelente distopia, mais leve do que outros clássicos do gênero, e talvez seja mesmo uma boa entrada para quem quer conhecer o universo literário das distopias. Embora não consiga desbancar 1984 do posto de melhor distopia já escrita, é um excelente livro, relevante, autêntico, impactante e com um importante valor de entretenimento (algo como um “livro-pipoca” das distopias). Recomendo a todos esta excelente obra.


Nota: ✩✩✩✩✩

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