Nunca fui fã de livros “mastigados”, em que o
sentido do que está escrito é exposto – jogado na cara, por muitas vezes. Um
bom livro deve levar o leitor a pensar, a refletir, a buscar os sentidos
presentes no texto. Uma boa obra levanta questionamentos sem, contudo, resolver
todas as questões, fazendo o leitor tomar parte na busca pelo entendimento. Para
leitores como eu, A Revolução dos Bichos (George Orwell, 1945) é um prato cheio.
Escrito por um dos maiores autores ingleses
da história (possivelmente o maior deles no século XX), o livro critica e expõe
características cruéis – porém muito reais – da ascensão do comunismo ao poder,
notadamente aquela ocorrida na Rússia, posteriormente URSS. Tudo isso, claro,
com extrema qualidade, em uma narrativa aparentemente simples, mas que suscita
a reflexão do leitor, e que se tornou, com justiça, um grande clássico da
literatura mundial.
Na
Granja do Solar, os animais, sob a liderança dos porcos Bola de Neve e
Napoleão, se revoltam contra os humanos, buscando uma vida melhor, de menos
trabalho e condições mais dignas. Feita a revolução, os animais vencem e
governam a si próprios, sem a interferência humana. A realidade, porém, se
mostra cruel: as regras que regem a sociedade dos animais são frágeis e mudam
ao bel-prazer de seus governantes.
Repleta de metáforas, a obra consegue
simplificar uma realidade profunda e complexa, em que os ideais iniciais (bem
intencionados, é verdade) se perdem no tempo, fazendo com que seja cada vez
mais difícil diferenciar o passado pré-revolução do presente, ou o bem do mal (no fim das contas, para os animais, já não há diferença entre
os homens e os porcos).
Se assemelhando a 1984, do mesmo autor
(ainda que de forma não tão brilhante), A
Revolução dos Bichos progride em sua história nos mostrando uma realidade profundamente
cruel e sombria, onde os animais são cada vez mais oprimidos por seus pares,
não havendo, em absoluto, qualquer esperança de mudança em tal situação. Somos
comprimidos à medida que notamos o gigantismo daqueles que estão no topo da
pirâmide (os porcos), oprimindo cada
vez mais os seus semelhantes animais, apoiados em um violento exército (os cães) e referendados por uma massa
acéfala (as ovelhas).
O maior desconforto que o livro traz é,
certamente, a brutal semelhança com a realidade vivida por muitos países que
foram submetidos a regimes comunistas (ou similares). Uma autodenominada luta
pela igualdade que, inevitavelmente, culmina em opressão, em violação das
liberdades individuais e em um abismal distanciamento entre governantes e
governados. A Revolução dos Bichos (como todo bom clássico) é um livro
assustadoramente atual.
Nota: ✩✩✩✩✩
Nota: ✩✩✩✩✩
O livro é ótimo realmente! E essa semelhança nem é só com comunismo, essa relação dos porcos com as ovelhas vemos em diversas situações, sempre que alguma pessoa tem mais influência que outra :/
ResponderExcluirRealmente, George Orwell sempre se mantendo atual!
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