Muitos livros
se tornam relevantes por abordar, de forma brilhante, assuntos polêmicos, cujo
debate, porém, é fundamental à evolução da sociedade. Alguns abordam tais assuntos
de forma aberta, demonstrando toda a crueldade que eles carregam – por exemplo,
1984 (George Orwell, 1949). Já outros tocam nesses temas de forma leve,
doce, nos fazendo transitar entre a beleza das situações descritas com o
sofrimento dos que passam por injustiças. Pouquíssimos, livros, entretanto,
conseguem ser tão relevantes e ao, mesmo tempo tão amáveis quanto O Sol é
para Todos (Harper Lee, 1960).
Em minha
crítica sobre o livro O Orfanato da Srta. Peregrine para Crianças Peculiares
(Ransom Riggs, 2011) eu mencionei que um dos grandes problemas dessa obra era a
sua narrativa em primeira pessoa. Já em O Sol é para Todos, essa é uma
das maiores virtudes. Uma belíssima e cativante narrativa em primeira pessoa,
conduzida pela protagonista, nos mostra a dura realidade do racismo nos EUA sob
a ótica de uma simples criança.
No condado
de Maycomb, Scout, seu irmão Jem e seu amigo Dill vivem pacatas situações,
típicas de uma pequena cidade norte-americana da década de 1930. Porém, quando
seu pai, o advogado Atticus Finch, assume a defesa de um homem negro, as
crianças descobrem uma das grandes mazelas da sociedade: um repugnante racismo,
que descamba em injustiça e violência.
O livro é
uma obra, a princípio, despretensiosa: a autora não esperava fazer sucesso, e
se surpreendeu muito com a repercussão de seu livro. A forma despretensiosa
como o texto é mostrado é um dos pontos fortes da obra, pois somos
deliciosamente surpreendidos com o modo como a história nos envolve e nos cativa.
Pequenos acontecimentos que vão se costurando e formando uma trama maior e mais
abrangente, nos levando de uma simples história de crianças a uma das mais
tristes máculas da história recente dos EUA.
Os
personagens são profundos e cativantes: as crianças Scout (que narra o livro),
Jem e Dill, o íntegro Atticus, pai dos dois primeiros, a criada Calpúrnia e o
misterioso Boo Radley... logo nas primeiras páginas, esses nomes nos são
atirados com velocidade, no típico falar desenfreado das pequenas crianças. O
que vemos nas páginas que se seguem, porém, é o grande desenvolvimento de uma
história que aparenta ser simples, sendo, contudo, extremamente relevante e
atual.
Neste que
é o único romance da autora publicado durante sua vida, somos colocados frente
a frente com o problema do racismo, sem disfarces, escancarado, numa exposição
que só poderia partir dos ingênuos (porém sinceros) olhos de uma criança. O
Sol é para Todos é um livro simples e ao mesmo tempo complexo; profundo,
porém cativante; antigo, porém sempre atual. Uma das mais belas obras da
literatura mundial.
Nota: ✩✩✩✩✩
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