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14 de junho de 2016

O Sol é para Todos (Harper Lee, 1960)

Muitos livros se tornam relevantes por abordar, de forma brilhante, assuntos polêmicos, cujo debate, porém, é fundamental à evolução da sociedade. Alguns abordam tais assuntos de forma aberta, demonstrando toda a crueldade que eles carregam – por exemplo, 1984 (George Orwell, 1949). Já outros tocam nesses temas de forma leve, doce, nos fazendo transitar entre a beleza das situações descritas com o sofrimento dos que passam por injustiças. Pouquíssimos, livros, entretanto, conseguem ser tão relevantes e ao, mesmo tempo tão amáveis quanto O Sol é para Todos (Harper Lee, 1960).

Em minha crítica sobre o livro O Orfanato da Srta. Peregrine para Crianças Peculiares (Ransom Riggs, 2011) eu mencionei que um dos grandes problemas dessa obra era a sua narrativa em primeira pessoa. Já em O Sol é para Todos, essa é uma das maiores virtudes. Uma belíssima e cativante narrativa em primeira pessoa, conduzida pela protagonista, nos mostra a dura realidade do racismo nos EUA sob a ótica de uma simples criança.

No condado de Maycomb, Scout, seu irmão Jem e seu amigo Dill vivem pacatas situações, típicas de uma pequena cidade norte-americana da década de 1930. Porém, quando seu pai, o advogado Atticus Finch, assume a defesa de um homem negro, as crianças descobrem uma das grandes mazelas da sociedade: um repugnante racismo, que descamba em injustiça e violência.


O livro é uma obra, a princípio, despretensiosa: a autora não esperava fazer sucesso, e se surpreendeu muito com a repercussão de seu livro. A forma despretensiosa como o texto é mostrado é um dos pontos fortes da obra, pois somos deliciosamente surpreendidos com o modo como a história nos envolve e nos cativa. Pequenos acontecimentos que vão se costurando e formando uma trama maior e mais abrangente, nos levando de uma simples história de crianças a uma das mais tristes máculas da história recente dos EUA.

Os personagens são profundos e cativantes: as crianças Scout (que narra o livro), Jem e Dill, o íntegro Atticus, pai dos dois primeiros, a criada Calpúrnia e o misterioso Boo Radley... logo nas primeiras páginas, esses nomes nos são atirados com velocidade, no típico falar desenfreado das pequenas crianças. O que vemos nas páginas que se seguem, porém, é o grande desenvolvimento de uma história que aparenta ser simples, sendo, contudo, extremamente relevante e atual.

Neste que é o único romance da autora publicado durante sua vida, somos colocados frente a frente com o problema do racismo, sem disfarces, escancarado, numa exposição que só poderia partir dos ingênuos (porém sinceros) olhos de uma criança. O Sol é para Todos é um livro simples e ao mesmo tempo complexo; profundo, porém cativante; antigo, porém sempre atual. Uma das mais belas obras da literatura mundial.


Nota: ✩✩✩✩✩

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